quinta-feira, 17 de junho de 2010

Entrevista com André Luis da Silva Montanhé

André Luis da Silva Montanhé, 31, é Jornalista formado pela PUC – SP no ano de 1999. Trabalha na TV Jornal como Repórter de Rua e juntamente com Rodrigo Piscitelli, é Coordenador de Jornalismo.



De olho no Jornal:
Você passou por barreiras para chegar onde está profissionalmente?

André: Eu não diria que eu passei por barreiras, não. Eu acho que a grande barreira foi ter perdido o “timing” da carreira, que é uma coisa que eu sinto muita falta de ter tido como foco no início. Sinto falta de ter mergulhado em coisas mais ousadas, como ir para fora ganhando “grana” pra comer. Se eu pudesse voltar no tempo, eu diria que eu faria a opção de carreira de “camelar” um pouco, buscando ser pequeno em grandes empresas, buscando ousar mais, enviando currículos e visitando empresas mais longes, estruturadas e de maior alcance.

De olho no Jornal: Que função exerce dentro da TV Jornal atualmente?

André: Eu sou coordenador do setor de Jornalismo, especificamente com relação ao Jornal da Cidade, que é o nosso noticiário diário, devido à coordenação com o coordenador Rodrigo Piscitelli. Sou responsável por matérias também, sou repórter de rua e faço a finalização do jornal. Sou eu quem faz uma última correção no produto final.

De olho no Jornal: Quantos jornalistas atuam na TV Jornal?

André: Formados? 5.

De olho no Jornal: No tempo de atuação na TV Jornal, o que mais marcou sua vida profissional?

André: Teve alguns acontecimentos surpreendentes, mas o que mais me marcou foi a morte do Lucas Babolin, aquele garoto que quebrou o pé, foi operado e entrou em estado vegetativo. Houve um problema com a anestesia, e três horas antes de ele ir para a China para fazer uma cirurgia de células tronco ele morreu, aí fomos cobrir o enterro dele. Foi um “troço” assim, que pela lástima foi bastante difícil não se deprimir e não se envolver. Sorte que a família foi bem receptiva, até porque recebeu bastante apoio da comunidade. Então a família dele falou comigo, porque senão ia ser bem complicado fazer. Uma pauta bem difícil, em um domingo de manhã. Um clima horrível. Esse foi o fato que mais me marcou.

De olho no Jornal: Falando de pauta, quanto tempo leva para elaborar uma boa pauta?

André: É bem relativo o tempo, eu acho que uma pauta de TV bem elaborada tem a preocupação com a imagem, fundamental e número um, e número dois personagem. São as duas coisas mais importantes que o assunto. O assunto vem depois, porque o assunto fica impresso ou na internet – Google (risos). Agora para a TV você precisa fazer a conexão com o telespectador. Digo que é mais importante, mas é claro que o assunto bem estruturado, o foco e tudo mais também são relevantes, mas por que eu estou colocando como mais importante? Porque é uma coisa que geralmente se esquece, que é o poder que tem um personagem na matéria. Com o poder de um personagem você ganha a matéria. Com um belo personagem você transforma uma matéria que é um lixo em uma maravilha.

De olho no Jornal: Certo, mas tem pautas que demoram um dia todo e outras pautas que são feitas em uma hora ou menos. Qual o motivo dessa diferença?

André: Ah sim, aí vocês estão falando do “cara” que não te atende na hora, não é? Isso aí acaba sendo a diferença entre uma empresa grande e uma empresa pequena. De repente em uma empresa regional e pequena, você não tem tempo para esperar um “cara” de uma instituição complicada, como por exemplo, da polícia militar. Aí é uma grande burocracia, aqui a gente tem uns atalhos, mas geralmente é uma grande burocracia. Ou, por exemplo, o Governo do Estado que é extremamente burocrático. O que ocorre é que você ignora os “caras”. Você vai pro pau – por exemplo, em uma crítica - e depois você pega, anota retorno e dane-se. Geralmente empresa pequena faz isso. Empresa grande não, aí vai da importância de você ouvir determinada figura. O tempo é muito relativo e vai de acordo com a abordagem que você vai fazer.

De olho no Jornal: A TV Jornal é considerada uma TV de que porte?

André: Eu diria que a TV Jornal é uma TV de uma grande amplitude regional, mas acredito que como não tem nenhum grupo gigantesco por trás, ela sofre os mesmos dilemas de uma pequena. Vamos dizer que é uma empresa de médio porte, e por conta de tudo isso que eu falei, ela tem a responsabilidade de levar uma programação sozinha, ou seja, o empresário aqui, ele que se dane. Essa coisa do educativo, na verdade, são denominações que no cotidiano pouco influem. A gente tem que se preservar em relação até a nossa concorrente. A gente vê coisas que eles mostram como, por exemplo, acusados sendo mostrado o rosto, acusados de crimes sexuais, essas coisas, e a gente se resguarda, tendo como parâmetro a questão do educativo. Eu diria que a gente sofre bastante a limitação do tamanho, e mesmo sendo de médio porte, às vezes a gente acaba se sentindo como pequeno nesse sentido. Sem nenhuma retaguarda. E nesse sentido, até que vocês falaram da pauta, milhares de momentos não dá pra você esperar o dia seguinte, você tem que detonar com o que você tem na mão.

De olho no Jornal: Como vocês lidam com as notícias de última hora e com toda a correria decorrente dessas?

André: Com as notícias de última hora você joga a pauta cotidiana para lá e vai pro pau. Na verdade, é preciso ter um coordenador muito atento, um “cara” que esteja dentro do estúdio fazendo todas as conexões, fazendo a inserção do fato, não só introduzindo com uma bela escalada, mas também jogando pra cima, de repente no primeiro bloco – ou não. E principalmente já antecipando algumas repercussões, como por exemplo, uma explosão de uma empresa de produtos químicos. Ele já tem que ligar pra SETESB, saber se a SETESB tinha tudo em ordem, ligar no bombeiro pra saber se morreu alguém. Porque ele chegou depois, com o fogo lá em cima. Será que morreu alguém? Ás vezes não é o bombeiro, chegou primeiro a polícia, então é a correria não só do fato em si, mas sim de como isso vai chegar da rua rápido. O “cara” tem que correr atrás e ver como vai inserir o produto.

De olho no Jornal: Acredita que a não obrigatoriedade do diploma de Jornalista afeta no mercado? O que pensa dessa decisão do STF?

André: Acho que foi uma decisão bastante descompromissada que foi tomada pelos mesmos ministros que transformaram essa instituição aí em, praticamente, não vou falar um circo porque seria muito polêmico. “Caras” polêmicos como o Gilmar Mendes... Acho que o STF foi bem descompromissado ao tomar essa posição, não se aprofundou na importância da técnica jornalística, não avaliou a relevância do referencial que o “cara” aprende em sala de aula. Ele simplesmente se baseou em alguma “frutica” que ele teve com alguém, eu acredito. O argumento das empresas foi: “Para escrever basta viver”. Um argumento fraquíssimo, um argumento de quem defende o mercado acima de tudo, fundamentalmente, de quem não sabe o que está falando. Acredito que as empresas sérias continuarão a exigir o diploma e acho que as pessoas não devem deixar de buscar o diploma, pois quem está aqui sabe o quanto faz falta. Eu, por exemplo, sinto falta de aulas que eu matei, de coisas que eu não me aprofundei. Eu acho muito importante a técnica jornalística.

De olho no Jornal: Você acha que a mídia conta com total liberdade de expressão aqui no Brasil?

André: Acho que estamos em uma situação bem melhor que no passado, agora a liberdade é uma coisa mais das empresas, como por exemplo, o crescimento da Record. Quanto mais empresas, mais há um policiamento mútuo sobre isso. Só que ao mesmo tempo as empresas se posicionam de forma institucional e ocorre essa guerra aí, como por exemplo, essa guerra boba que há entre a Globo e a Record. Os interesses escusos são expostos. Eu acredito que esse conceito de liberdade é relativo, extremamente relativo.

De olho no Jornal: Há rivalidade entre a TV Jornal e sua concorrente, Mix Regional?

André: A rivalidade existe muito mais da parte deles que estão chegando agora e que estão um pouco atrás na amplitude da audiência. Eu te diria que eu não assisti nenhum jornal deles em todo o ano de 2009. A gente não sabe o que eles veiculam, a gente não os vê. Os programas policiais é que incitam mais essa competição, mas o jornalismo em si não, não há rivalidade.

De olho no Jornal: Na sua profissão de repórter, tem algum assunto que você quer cobrir, mas ainda não teve a oportunidade de cobrir?

André: Eu gostaria de cobrir uma eleição para presidente da câmara, ao vivo. Isso é o que eu mais gostaria de fazer, porque eu acho que é nesse momento que rola o instantâneo do que vai ser o governo, a relação câmara e governo municipal.

De olho no Jornal: Qual o relacionamento que você possui com seus colegas de trabalho?

André: É um pouco difícil conviver um dia inteiro de trabalho com os mesmos colegas, é muita correria. Eu chego na TV e saio para rua trabalhar como repórter. Mas, quando trabalho dentro da TV com os meus colegas de profissão o relacionamento é muito bom sim. Não tenho de que reclamar.

De olho no Jornal: Com toda rotina de trabalho de um repórter que sempre está à mercê de pautas de última hora e muita correria, sobra tempo para família e diversão?

André: Tem sim. A gente tem uma carga horária bem estabelecida, com escala e tudo mais. A gente tem um esquema de plantão bem regulamentado. Acho que o impresso seria uma coisa mais “pescoção”, mas a TV é diferente. Eu ouço falar sobre isso, mas acredito que sejam empresas mal organizadas. Eu acredito que nada justifica o “cara” ficar 24h trabalhando, a Folha de SP, por exemplo, faz os chamados “pescoções”, mas eu acho que nada justifica. Um plantonista só dá conta, essa questão não me trás problemas. Sobra tempo pra diversão e família sim.

De olho no Jornal: Qual a importância do Jornalismo na sociedade para você?

André: Eu diria a vocês que hoje eu confio em apenas duas instituições no Brasil pós-democratização, do resto nenhuma é digna de confiança. Essas duas são o Jornalismo e o Ministério Público. De resto, justiça, legislativo, executivo... é impossível confiar. Você tem que sempre desconfiar, sempre policiar, sempre buscar o máximo estar com o pé atrás.

De olho no Jornal: Por que o Jornalismo é digno dessa confiança?

André: Pela proposta que ele tem. Ele tem que viver dessa credibilidade, dessa busca pela liberdade e imparcialidade. Se ele não fizer isso, ele acaba perdendo muito. Eu sou testemunha viva de momentos em que a empresa tomou opções que foram equivocadas e daí, a perda imediata. Principalmente televisão. O “cara” vê na tela que ta vendo sacanagem ali e o no dia seguinte já não assiste. É um “troço” assim, bem sério.

Entrevista: Grupo de Olho no Jornal
Publicação: Ana Paula Rosa
Foto: Thalles da Silva

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